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Crónica de um noticiário televisivo anunciado

  • congressolmc7
  • 23 de abr. de 2023
  • 3 min de leitura

Foto: iStock


Texto: Raquel Gonçalves


A realidade do jornalismo por detrás de uma câmara é muito mais do que a expressão “luzes, câmara, ação”. Ao entrar num estúdio de televisão, somos transportados para um mundo acelerado e atulhado. Há involuntariamente uma desmistificação daquilo que televisão é para aqueles que se sentam no sofá para assistir ao jornal da noite.


É no cenário caótico de um estúdio de televisão que encontrámos José Manuel Mestre. Depois de uma ronda de breves apresentações, somos rapidamente convidados a entrar no seu mundo jornalístico. Decidir a agenda noticiosa, fazer o alinhamento do jornal, distribuir peças jornalísticas, atribuir papéis de pivot, repórter, comentador, etc. e filmar um jornal ao vivo e a cores - é este o desafio que o profissional de informação nos apresenta, tendo por base o seu lema “aprender fazendo”.


“Será que um jornalista consegue ser objetivo?” - um debate começa. No estúdio, respostas distintas surgem de várias vozes. Entre os professores e os alunos presentes na audiência, chega-se à conclusão de que a objetividade jornalística é efetivamente uma utopia. Para José Manuel Mestre, é evidente que o “objetivo de qualquer jornalista é procurar a objetividade, sabendo que ela não existe.”


Ao falar da procura inalcançável pela objetividade surge o rigor enquanto “chave” do trabalho jornalístico. A sua “busca incessante”, isto é, pela veracidade de uma notícia, é primária na profissão e diferenciadora no mundo da comunicação. Segundo José Manuel Mestre, “o jornalista afirmar só digo o que sei; se não sei, não digo é essencial”.


Sem perder tempo, o orador prossegue com o debate: “Será que a notícia é algo de interesse público ou de interesse do público?”. Irrompem automaticamente opiniões. A ideia de que o interesse público tem sempre de ser a preocupação principal de qualquer órgão de comunicação é unânime no grupo. O equilíbrio entre ambos os interesses - interesse público e do público - é debatido no grupo. Como exemplo da importância do interesse do público, surge no debate o futebol - aparece diariamente no jornal, mesmo quando não se trata de uma notícia com grande relevância, com o principal objetivo de atrair audiências.


Chegou a altura de agarrar com unhas e dentes a proposta do jornalista. Hipoteticamente, o estúdio transforma-se numa reunião de editores e de coordenadores. José Manuel Mestre pergunta: “Que notícias vão fazer parte do nosso jornal?”. Considerando que, segundo o repórter, "tomar banho é essencial para um jornalista (banho de informação)” e tendo em conta aquilo que é mais relevante, é então altura para decidir a agenda noticiosa. Rapidamente e sem grandes discussões, chega-se a um consenso. Escolhemos apresentar cinco notícias: a visita de Lula da Silva a Portugal, os preparativos para a coroação de Carlos III, as negociações entre o Ministério da Educação e o Sindicato dos Professores, a implementação do Plano Nacional de Literacia e a isenção do IVA de alguns produtos do cabaz alimentar. Dividimo-nos em equipas, são distribuídas as diferentes peças jornalísticas e cada um planeia em dois minutos aquilo que vai dizer. Apesar de ser uma simulação, consegue-se sentir o nervosismo no ar. Sem grandes profissionalismos, mas com grande empenho, uma equipa de cerca de 20 pessoas faz um jornal em 20 minutos. Gravado o jornal, assistimos ao nosso trabalho; há risos na sala. No final, um aplauso.


Em modo de conclusão, e tendo como exemplo os erros técnicos da nossa produção de amadores, José Manuel Mestre chama a atenção para o evidente escrutínio a que um jornalista é normalmente sujeito. Segundo o formador, hoje em dia assistimos à “crucificação do jornalismo na sociedade”, em especial, nas redes sociais.


A objetividade e o rigor, essenciais na formulação de qualquer notícia, além de serem desafios à prática do jornalismo, são a base de qualquer peça jornalística. Aos olhos de José Manuel Mestre, “são também os factos, é a reportagem sobre os factos, é a procura da mais-valia.” A notícia é muito mais do aquilo que o espectador vê através no ecrã.


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