top of page
  • congressolmc7

António José Teixeira: “Só é credível quem reconhece que comete erros”

Atualizado: 26 de abr. de 2023


Cristina Ponte, coordenadora do ICNova, Manuel Carvalho, diretor do jornal Público, António José Teixeira, diretor de informação da RTP, e Belinha S. de Abreu, presidente do Conselho Internacional para a Literacia Mediática– IC4ML. Ao centro, Fernanda Bonacho, a moderadora e presidente da Comissão Científica do Congresso


A sessão plenária I do VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania contou com a presença de vários profissionais da área de comunicação que debateram a temática da literacia mediática


Texto: Beatriz Gaiato, Letícia Cruz, João Ricardo e Madalena Pedro

Foto: Ana Pinto


A emergência de formar cidadãos numa era cada vez mais dominada pelo digital foi uma das grandes preocupações manifestadas na sessão plenária I do VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania, que decorreu esta manhã, 21 de abril, no Auditório Vítor Macieira, da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL).

Neste debate, moderado pela professora Fernanda Bonacho, representante da ESCS como membro do GILM, estiveram presentes António José Teixeira, diretor de informação da RTP, Belinha S. de Abreu, presidente do Internacional Council for Media Literacy – IC4ML, Cristina Ponte, coordenadora da ICNova da FCSH, da Universidade Nova de Lisboa, e Manuel Carvalho, diretor do jornal Público.


A intervenção de Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, sobre literacia mediática, e o Plano Nacional para a Literacia Mediática, apresentado por Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura, serviram de mote para o início do debate. “A sociedade é profundamente mediatizada, mas não devemos confundir a literacia mediática com literacia informacional, porque temos de ter em conta que estes desafios da literacia mediática precisam de incorporar uma atenção à literacia internacional, uma vez que o ambiente é principalmente digital”, afirmou Cristina Ponte. O mundo digital constitui-se como um grande desafio porque exige um tipo de raciocínio rápido e, por outro lado, a literacia precisa de um raciocínio mais ponderado.


A literacia mediática é complexa, o que obriga a uma abordagem polivalente. A questão das novas tecnologias tem sido um desafio acrescido a esta complexidade. “A tecnologia vai continuar a evoluir e temos de pensar nas novas gerações. Os jovens estão muito ligados às redes sociais e o trabalho jornalístico, que é muito importante, tem vindo a sair prejudicado”, esclareceu Belinha de Abreu.


Uma ameaça à cidadania


“A voz dos alunos tem de estar presente no ensino”, sugeriu a presidente do Internacional Council for Media Literacy – IC4ML. António José Teixeira acrescentou que eventos como este podem ser importantes nesse sentido. O diretor de informação da RTP disse acreditar, no entanto, que a questão não passa apenas pelo ensino: “O acesso à informação qualificada é um direito humano e, nesse sentido, tem de se fomentar o sentido crítico. Estamos a falar de democracia.” O jornalista mencionou também que "a mediação é muito relevante, uma vez que a qualificação do jornalismo é fundamental para as democracias".


“Estamos a assistir a uma destruição lenta do ecossistema dos media em Portugal”, alertou Manuel Carvalho. A sustentabilidade do jornalismo em Portugal tem vindo cada vez mais a ser ameaçada e, no entender do diretor do jornal Público, “as entidades reguladoras não estão a realizar um bom trabalho nesse âmbito. No entanto, a literacia mediática é uma responsabilidade coletiva e não é só dessas entidades”.


É necessário conhecer as práticas dos jovens para combater a iliteracia. No seguimento desta ideia, a coordenadora do ICNova, da FCSH, mencionou alguns resultados do projeto europeu que envolve 13 países e no qual é coordenadora da equipa para Portugal, o ySkills. O estudo financiado pela União Europeia pretende identificar os riscos e as oportunidades das novas tecnologias da informação e da comunicação, em crianças e adolescentes entre os 12 e os 17 anos. “Onde os jovens consideram ter menos competências é na vertente de navegação e de pesquisa de informação, que é precisamente a mais importante da vida cívica.” A investigadora sublinhou também que “é necessário passar do nível da teoria e da racionalização para o nível do desempenho e da performance”.


Existe uma preocupação acrescida em formar a população jovem ao nível da literacia mediática, principalmente, no meio académico, mas essa tendência deve ser direcionada à população em geral, que, muitas vezes, não tem acesso a este tipo de questões ou não as estuda. “Temos de ver a sociedade no seu todo, não dando atenção apenas a uma parte”, apontou Belinha de Abreu. A presidente do IC4ML enfatizou que as gerações mais velhas conhecem pior as tecnologias, mas estão mais informadas que as gerações mais novas: “Os jovens não estão tão bem informados devido ao uso das redes sociais.”


Credibilidade do jornalismo


António José Teixeira explicitou de que forma a RTP dá prioridade à questão da literacia mediática: “Através de respostas como o Arquivo da RTP, o Estudo em Casa, a RTP Ensina e a RTP Play, fomos capazes de levar tudo o que fazemos às diversas plataformas porque um dos nossos desafios é pensar que muitos dos conteúdos não são consultados na televisão.” O diretor de informação da RTP entende que a literacia passa por fazer chegar ao público informação de qualidade, pois é necessário que o jornalista também tenha sentido crítico para reconhecer quando erra. “Só é credível quem reconhece que comete erros”, referiu.


Manuel Carvalho reforçou a importância de ter em atenção a fragilidade do ecossistema dos media: “Os jornalistas não estão a fazer tudo o que podem para combater esta fragilidade.”

Belinha de Abreu sublinhou o poder que a formação em literacia mediática possui e frisou que esta é proibida em alguns países. “Devemos acompanhar o desenvolvimento da inteligência artificial e ver de que maneira irá afetar a forma como comunicamos”, afirmou, em nota final.


135 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page