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“Portugal está muito abaixo da média em qualificação avançada no digital”

Atualizado: 11 de mai. de 2023


Luísa Ribeiro Lopes, coordenadora-geral do INCoDe.2030, Maria João Horta, subdiretora-geral da Educação, Manuel Miguéns, secretário-geral da Educação do Conselho Nacional da Educação, e Tatiana Sanches, chefe de Divisão de Documentação, na Faculdade de Psicologia e no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Ao centro, a moderadora, Manuela Pargana da Silva, representante do GILM da Rede de Bibliotecas Escolares


A transição digital na educação e literacia mediática foram os tópicos escolhidos para encerrar a 6ªedição do Congresso Literacia, Media e Cidadania. O lugar de retaguarda que o País ocupa a nível de competências digitais quando comparado com os congéneres europeus e como inverter esta tendência foram as ideias mais marcantes da IV sessão plenária


Texto: Daniel Afonso, Gonçalo Gato, Joana Pratas, Pedro Bettencourt e Tiago Bastos

Foto: Fernanda Bonacho


A quarta sessão plenária do Congresso de Literacia, Media e Cidadania, que decorreu ao final da tarde de sábado, 22 de abril, na ESCS, teve como tópico principal a transição digital na educação e literacia mediática. Com moderação de Manuela Pargana da Silva, do GILM, a palestra contou com uma troca de ideias entre Maria João Horta, sub-diretora na Direção-Geral da Educação, Tatiana Sanches, chefe de divisão de Documentação, na Faculdade de Psicologia e no Instituto da Universidade de Lisboa e membro da BAD, Luísa Ribeiro Lopes, coordenadora-geral da INCoDe.2030, e Manuel Miguéns, secretário-geral do Conselho Nacional de Educação, desde 2000.


Efeito digital


Miguel Miguéns foi o primeiro orador e deixou bem claro, desde o início, que não era nenhum especialista na matéria. “Sou uma espécie de 'tudólogo'", foi desta maneira que se descreveu. O secretário-geral do Conselho Nacional de Educação manifestou-se muito preocupado com a atual situação do digital e o efeito que tem nos jovens. Recordou um episódio ocorrido em 2001, numa iniciativa de Teresa Ambrósio e Helena Vaz da Silva. Na altura, os portugueses estavam entre aqueles que mais tempo passavam à frente da televisão, porém, a oferta televisiva era de má qualidade. Em 2021, Miguel Miguéns lembrou que “uma ação eficaz para contrariar a má qualidade da oferta televisiva só pode derivar dos esforços de todas as partes”. A verdade é que diz não ter verificado muita mudança no conteúdo, em termos educativos. O pensamento crítico foi o ponto fulcral do discurso e, na sua opinião, “o digital está a tirar o pensamento crítico à sociedade”. Miguel Miguéns sublinhou o papel fulcral da Educação para combater a superficialidade: “A Escola tem de potenciar e desenvolver uma consciência crítica e autónoma, como também o saber científico.”


Portugal face às qualificações digitais


Luísa Ribeiro Lopes começou por apresentar quatro eixos dimensionais da transição digital. “No que diz respeito às qualificações digitais, não estamos todos do mesmo patamar e existe um grupo muito grande de população excluída do digital.” Pessoas com menores recursos, mais velhas e que vivem fora das grandes sociedades são exemplos ilustrativos deste primeiro eixo apresentado pela oradora. A coordenadora-geral da INCoDe.2030 também apontou a diferença de género, uma vez que, afirmou, “são mais as meninas que são excluídas do digital". Para Luísa Ribeiro Lopes, a solução passa por “trazer estas pessoas e praticar o exercício da cidadania”.


O terceiro eixo é o da Qualificação Avançada: “Aqui, estamos a olhar para pessoas com formação e com qualificação em áreas do digital, basicamente em licenciaturas, mestrados, doutoramentos." A especialista revelou que “Portugal está muito abaixo da média em qualificação avançada no digital”. No entender de Luísa Ribeiro Lopes, “Portugal precisa de ter mais pessoas qualificadas nesta área e cuidar das instituições de ensino superior. Não só nestes três níveis de ensino, licenciaturas, mestrados e doutoramentos, mas também micro-formações que se podem dar nas universidades e nos institutos politécnicos para dotar as pessoas com qualificações avançadas em várias áreas, nomeadamente, nas mais necessárias, como a cibersegurança, a computação avançada, a área dos dados e a Inteligência Artificial”.


A bibliotecária Tatiana Sanches apresentou a sua perspetiva na temática do Ensino Superior. “A vida não acaba no 12º ano” - começou - “ainda persistem algumas deficiências e as bibliotecas, como são estruturas transversais que existem nas escolas, quer seja, nas escolas básicas, secundárias e superiores, podem ter um papel muito importante do meu ponto de vista”.


Ainda com uma alusão ao suporte digital, Tatiana Sanches apontou para as bibliotecas como meio de adquirir conhecimento: “As competências são a literacia da informação, a qual tem como função aprender a pesquisar, a usar e a comunicar a informação, bem como a ser produtor de informação de uma forma ética, mas também compreender a informação num nível mais profundo, independentemente do suporte, seja ele digital ou não”.


Por último, Luísa Ribeiro Lopes expôs o eixo também referido por Manuel Miguéns e que aborda a importância da inovação. “Precisamos de fazer uma forte aposta na inovação e também na área do digital. Fazer de forma diferente aquilo que sempre fizemos e ter ideias inovadoras nesta área para nos podermos colocar um bocadinho na linha da frente dos países europeus.”


A importância do espírito crítico


Manuel Miguéns notou que o perfil dos alunos está a mudar: “Há muito tempo que os jovens são não apenas consumidores, mas também produtores de conteúdos” e avisa que “este novo tipo de alunos precisa ter cuidado a distinguir factos e ficção; procurar descortinar a origem e os interesses de quem veicula a informação”. Ainda alertou para os desafios éticos de segurança que são possíveis combater através da educação para que os jovens possam diferenciar o que é um ambiente digital público e um privado, referindo que “os estudantes têm de ter autocontrolo e autocorrelação”.


Luísa Ribeiro Lopes deu importância à questão da segurança e da proteção de dados e alertou para o facto de ser preciso que “os jovens percebam que condições de segurança devam proporcionar proteção dos seus próprios dados". Por outro lado, assumiu que “a tecnologia é uma arma pública, no sentido em que oferece muitos serviços digitais que beneficiam o próprio exercício da cidadania nas camadas mais jovens”.


A coordenadora-geral da INCoDe.2030 referiu que a questão do pensamento crítico e do próprio pensamento computacional, que hoje faz parte do currículo, possibilita aos jovens diferenciar o verdadeiro e o falso: “Um pensamento crítico já era tão necessário antes de existir tecnologia. Toda a vida tentámos ter um pensamento crítico relativamente àquilo que nos é dado.”


Papel do Estado


Maria João Horta deu garantias de que existiu um salto enorme no País face à preparação que os jovens levam para o futuro. A sub-diretora na Direção-Geral da Educação assegurou que essa mudança se deveu ao investimento financeiro humano feito pelo Estado português ao longo dos anos: “Estamos a falar de uma estratégia financeira, mas em recursos humanos, em que já se investiu 500 milhões de euros neste meio da transição para o digital. A entrega de computadores durante o período pandémico é um dos exemplos deste grande investimento empreendido pelo Estado.”


A nível das aptidões que os alunos levam para o futuro, pelo menos a dez anos, a especialista referiu que “não são apenas competências políticas ou até mesmo científico-tecnológicas, mas as digitais também têm de estar enquadradas nesse âmbito. Para qualquer uma das competências adquiridas durante a aprendizagem, é necessário compreender o seu ensinamento e o que está por trás dessa questão, principalmente, se for digital”. A busca pela compreensão não superficial de alguma matéria foi uma temática bastante marcada no discurso de Maria João Horta.


A inclusão na educação foi outro tema desenvolvido no decorrer da intervenção da sub-diretora na Direção-Geral da Educação. “Temos hoje uma lei para a inclusão, que diz que a educação tem de ser qualidade para todos, principalmente para as pessoas da educação. Academias como a Academia Digital para Pais serviram de exemplo para explicar o tema da inclusão digital no ensino e a sua transição especialmente para pessoas mais vulneráveis.”


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