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Desinformação e Infodemias:

Atualizado: 16 de mai. de 2023

“Mais do que a literacia dos media é preciso ação”

Mário Figueiredo, professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, Helena Martins, gestora de Políticas Públicas da Google para Portugal, Lino Santos, diretor do Centro Nacional de Cibersegurança, e Miguel Crespo, investigador no CIES-ISCTE e coordenador da Iberifier. Ao centro, o moderador, Vítor Tomé, representante da GILM da Universidade Autónoma de Lisboa


Professores, investigadores e oradores dos quatro cantos de Portugal e além-fronteiras foram recebidos na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS) para a VI edição do Congresso Literacia, Media e Cidadania. As atividades da tarde contaram com o debate sobre as consequências do desenvolvimento tecnológico e o combate à desinformação. A mesa redonda defendeu o papel da literacia mediática e da “ação” como meios para atenuar estas problemáticas, como referiu o investigador Miguel Crespo


Texto: Beatriz Santos, Cristina Gordon e Sofia Santos

Foto: Leonardo Costa


O primeiro dia do VI Congresso Literacia, Media e Cidadania contou com vários momentos de partilha e debate, entre os quais a Sessão Plenária II que incidiu sobre o papel da Literacia Mediática no âmbito da Desinformação e das Infodemias. O colóquio teve a participação de oradores especialistas nestas temáticas: Helena Martins, head de Relações Governamentais e Políticas Públicas da Google para Portugal, Lino Santos, coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança e membro do conselho de administração da Agência Europeia de Cibersegurança (ENISA), Mário Figueiredo, professor do Instituto Superior Técnico (IST) e coordenador da área “Information and Data Science”, do Instituto de Telecomunicações, Miguel Crespo, investigador CIES-ISCTE e coordenador Iberifier. Moderada por Vitor Tomé, a mesa redonda teve lugar no auditório Vítor Macieira, dando continuidade às atividades e iniciativas que decorreram no período da manhã.


“Literacia não é uma solução por si só para a desinformação”


Atualmente, ao contrário daquilo que acontecia há 50 anos, os media possibilitam uma visão mais ampla da sociedade, ainda que, por vezes, enviesada, segundo o moderador do painel Vítor Tomé. Não obstante, Helena Martins explicou que o motor de busca da Google é personalizado tendo em conta a localidade, a língua e o significado das palavras escolhidas pelo utilizador. A representante da Google acrescentou ainda que “a missão da empresa passa por organizar as informações, torná-las acessíveis e úteis", ao mesmo tempo que se tenta destacar os sites fidedignos, de modo a minimizar a desinformação.


A questão da qualidade e da quantidade da informação que circula diariamente foi abordada por Miguel Crespo. O investigador do Iberifier (Iberian Digital Media Research & Fact-Checking), apresentou os resultados de um estudo ibérico feito à população sobre a perceção dos medias digitais. “Mais de um terço das pessoas depara-se com a desinformação”, foi esta uma das conclusões que salientou. Para contornar esta situação, o fact checking é um dos fatores de ação crucial. A pandemia da COVID-19 e a corrente guerra na Ucrânia fizeram com que se recorresse cada vez mais a este mecanismo. Todavia, para Miguel Crespo "os protótipos que muitas equipas criaram para evitar a propagação da desinformação não apresentam os resultados mais positivos”.


O orador Mário Figueiredo afirmou que “um dos mecanismos para conseguir a atenção dos indivíduos é a indignação”. Com isto, realçou a guerra aberta entre as plataformas legítimas e os respetivos geradores que, em contrapartida, tentam “captar atenção, followers, visualizações e likes”. Todas as pessoas estão sujeitas a serem influenciadas pela desinformação, mesmo sem se aperceberem disso, incluindo os próprios jornalistas que admitem já terem publicado desinformação inconscientemente.

Os desafios da inteligência artificial no mundo mediático e a cibersegurança


A utilização das ferramentas de inteligência artificial tem sido motivo de debate nas mais variadas áreas. O setor da comunicação tem dedicado particular preocupação a este assunto. É neste sentido que, para Mário Figueiredo, "as empresas não podem esperar que a tecnologia automática resolva o problema da desinformação”.


Para além disso, o professor do IST referiu que já existem “máquinas em casa que funcionam como oráculos da verdade que, apesar de filtrarem a informação e serem plausíveis segundo o conhecimento humano, não apresentam as fontes, sendo assim imprescindível o discernimento da informação". O especialista afirmou ainda que "é necessário saber interpretar o tal oráculo que, muitas vezes, está infetado com desinformação, algo cada vez mais desafiante para uma pessoa que não saiba nada sobre o assunto”. Lino Santos completou a ideia sublinhando que "é crucial criar um consumo digital mais consciente”.


O coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança admitiu a necessidade de “criar uma cultura de consumo de informação digital que permita ao cidadão distinguir uma informação verdadeira de uma falsa”. Assinalou ainda a parceria que a organização fez com a Agência Lusa no sentido de auxiliar as pessoas a conhecer o significado de fake news, a identificar notícias falaciosas e a protegerem-se da constante exposição à desinformação, encaminhando-as para uma melhor utilização dos motores de busca da Google.


A parceria passou pela criação do curso Cidadão Ciberinformado, como uma tentativa de dar resposta à falta de literacia digital dos recursos humanos. Além disso, acrescentou que a Europa já apresenta um conjunto de instrumentos que obriga à transparência dos conteúdos publicados nas plataformas online, como o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), com o objetivo de “evitar e minimizar os impactos negativos que a aplicação da tecnologia tem na sociedade".


A verdade é que os media não estão isentos de possíveis ataques cibernéticos, até porque, segundo Lino Santos, "são um setor apetecível senão o mais apetecível”. O membro do conselho de administração da ENISA destacou que os incidentes ocorridos não estão interligados e por isso são provocados por motivações distintas: financeiras, não financeiras, grupos militantes, como por exemplo, causa russa ou ucraniana.


Para a prevenção destas ocorrências é importante que as organizações priorizem a cibersegurança das suas informações, protejam o jornalista com o sigilo das suas fontes e que disponibilizem literacia digital aos seus funcionários. A cibersegurança deve, portanto, ser reconhecida entre as empresas como um fator de entreajuda e não como uma despesa ou motivo de concorrência. “As dores são comuns e só ganhamos se ajudarmo-nos uns aos outros”, conclui.

Instrução mediática e digital: novas iniciativas e expectativas


A demanda pela aposta na literacia mediática foi algo bastante debatido por todos os conferencistas, em especial pela Helena Martins que apresentou diversos projetos que tentam capacitar as pessoas na compreensão do funcionamento do mundo digital e mediático, como forma de evitar a generalização da desinformação no meio.


A coordenadora das Políticas Públicas da Google apresentou o projeto “Programar o Futuro”, criado em colaboração com a sua empresa e a SIC Esperança, que tem como público alvo jovens desempregados. Para além disso, falou sobre o projeto da Google em conjunto com a DECO, cujo primeiro foco principal é a aproximação entre a literacia digital, os jovens e os seniores.


Helena Martins aprofundou o assunto, explicando que foi durante a pandemia da Covid-19 que se aperceberam do maior envolvimento da terceira idade no meio digital. Neste sentido, surgiu a necessidade de educar, transmitir os básicos e adaptar a linguagem, de forma a promover uma navegação segura na internet.


Este tipo de iniciativas nas áreas de formação é atualmente acompanhado pela investigação na área, nomeadamente através da aplicação de verbas para desenvolver este domínio. Entre elas, Helena Martins destacou o Fundo Europeu para os Meios de Comunicação Social e Informação, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian. Paralelamente, deu ênfase ao apoio do fact checking, por meio dos mecanismos de comparação de imagens e de sites que permitem verificar se os textos publicados passaram ou não pelo processo de verificação de dados.


Ação no mundo digital: Melhoramento do espaço e proteção contra os aspetos negativos


É certo que a tecnologia tem lados positivos e negativos. Para muitos, o rápido avanço tecnológico e as múltiplas fontes de informação fundamentam a tentativa de, nas palavras de Miguel Figueiredo, “abrandar ou parar o desenvolvimento tecnológico”.


Ainda assim, Miguel Crespo salientou que a tecnologia “permitiu avanços sociais" mas que também gerou controvérsias: “como é que tantas pessoas mudam os seus comportamentos com informações falsas?”. Lembrou, ainda, que não existem “meios desinformativos, mas fontes desinformativas”, daí ser extremamente difícil definir a origem dos problemas aqui debatidos. Referiu, no entanto, que é impossível eliminar a desinformação por decreto e que parte da solução passa sim pelos cidadãos, pelas campanhas de educação cívica e pela estimulação do espírito crítico.


Para concluir o debate, o coordenador da Iberifier sublinhou que “mais do que literacia dos media, é preciso ação”, algo que, segundo Helena Martins, já tem vindo a ser feito através do Code of Practice: DSA (Digital Services Act). Publicado em 2018, este documento é visto como uma “medida de mitigação da desinformação”, dado que veio a ter em atenção as necessidades atuais do palco europeu. Segundo a oradora, este ato fortaleceu pelo menos 44 medidas já existentes que promulgam, entre outros aspetos, a maior transparência, a redução de anúncios, a redução na quantidade e o aumento da qualidade dos artigos ao dispor dos utilizadores.

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