Escassez de recursos favorece a desinformação, defendem especialistas
- congressolmc7
- 24 de abr. de 2023
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Atualizado: 12 de mai. de 2023

Regina Duarte, comissária do PNL, João Costa, ministro da Educação, João Pedro Figueiredo, vogal do Conselho Regulador da ERC e supervisor da área de Literacia Mediática, e Luísa Meireles, diretora de Informação da Agência Lusa. Ao centro, o moderador, Pedro Jorge Braumann, representante do GILM da RTP.
Profissionais debateram o papel da literacia mediática, os desafios para as políticas públicas e a transição digital, na Sessão Plenária III Literacia Mediática - Desafios para as Políticas Públicas. A ideia de que faltam recursos nos meios de comunicação social e avisos que o jornalismo corre sério perigo dominaram a palestra
Texto: Alice Antunes, Francisca Camilo, Laura Ferreira e Joana Fernandes
Foto: Ana Pinto
A falta de recursos humanos e financeiros na comunicação social, a abundância de ‘fake news’ e a ameaça que pende sobre o jornalismo foram alguns dos temas debatidos na sessão plenária III, na manhã de 22 de abril, no Auditório Vítor Macieira, na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa.
O ministro da Educação garantiu ter implementado medidas que “desenvolveram o pensamento crítico, a resolução de problemas, a autonomia e a responsabilidade dos jovens”. João Costa lembrou, no entanto, que a informação online “nem sempre significa conhecimento” e que “é necessário instruir os alunos a encontrar e selecionar informação de qualidade e a distinguir factos de opiniões”.
No painel que, além de João Costa, contou com a participação de Luísa Meireles, diretora de informação da agência Lusa, Regina Duarte, comissária do Plano Nacional de Leitura, e João Pedro Figueiredo, vogal da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) que sublinhou a relevância de cada um dos atores participantes na transmissão da informação e a importância de conceder a essas entidades os “instrumentos necessários para poderem fazer um trabalho efetivo”. Apesar disso, João Pedro Figueiredo criticou a “falta de recursos humanos e financeiros na comunicação social” e o seu impacto no bom funcionamento dos meios.
A falta de recursos foi um denominador comum nas intervenções dos participantes. A diretora da agência de notícias recordou “o papel importante que a Lusa tem vindo a desempenhar, estando presente em toda a comunicação e procurando respeitar as regras do jornalismo” e defendeu que esta “é uma boa forma de diminuir a desinformação apesar da escassez de recursos”. Luísa Meireles defendeu que “a agência Lusa tem tido um papel importante na defesa do jornalismo”.
Por outro lado, Regina Duarte elogiou o Plano Nacional para a Literacia Mediática, lançado pelo ministro da Cultura, com tendo “um papel óbvio na promoção da literacia mediática”. A comissária garantiu que o PNL contribui para a divulgação de “boas práticas de sensibilização e de informação. Promove a leitura e cultiva nos jovens uma maior capacidade de interpretação e avaliação”.
Reforçada pela estatística, Luísa Meireles reforçou os “altos níveis de desinformação nos meios de comunicação”. A diretora da agência Lusa destacou a criação, no ano passado, da Escola Lusa que engloba estágios extracurriculares para estudantes e jornalistas da própria Lusa, permitindo-lhes realizar vários cursos que possibilitam o “refrescamento das normas e regras do jornalismo”. Na mesma linha, João Pedro Figueiredo lembrou a importância de se saber distinguir o tipo de informação que se consome. Crítico de determinada informação que se pratica, entende que “se deve separar a informação tratada por determinados padrões éticos e deontológicos, que oferece uma garantia mínima de credibilidade e fiabilidade da informação não mediática”. O vogal da ERC sublinhou, assim, a necessidade de haver uma alteração à lei de imprensa.
Uma ideia que levou João Pedro Figueiredo a recordar que a ERC recebeu múltiplas reclamações por causa da desinformação emitida pelos órgãos de comunicação social, nomeadamente nas três principais televisões. João Pedro Figueiredo não tem dúvidas de que essa desinformação aumentou, ultimamente, devido a “práticas menos rigorosas e a uma ‘overdose’ de notícias, que gera um desinteresse no público, que já não quer saber aquilo que é verdadeiro e aquilo que é falso”. Daí ter chamado a atenção para o facto da desinformação “não estar presente somente nos media: a literacia não é necessária apenas contra a desinformação, mas também contra os discursos de ódio, discriminação, proteção de crianças e de adolescentes”.
Pedro Jorge Braumann, representante da RTP no GILM (Grupo Informal sobre Literacia para os Media), referiu que “se tem vindo a verificar alterações na difusão de notícias em que as tradicionais vias de comunicação estão a cair em desuso”. O também professor da ESCS criticou a falta de expansão de políticas públicas e de planos mais alargados, admitindo que “a desinformação é um problema da sociedade global”.
A comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, destacou a relevância dos planos locais de leitura desenvolvidos pelos municípios e apelou à criação de outras práticas com o intuito de combater a desinformação.
Luísa Meireles, tal como Pedro Braumann, referiu-se à “impossibilidade de se ser objetivo no jornalismo”, destacando uma frase de Mário Mesquita: "O jornalista tem de ter ‘o estranho dever do ceticismo’ quando elabora as suas próprias notícias.” A diretora da Lusa realçou a importância de o jornalista “obedecer às normas da profissão”, convicta de que se “deve ter sempre presente a diferença entre o jornalismo, a propaganda e a desinformação”. Luísa Meireles defendeu ainda que “o jornalista tem de saber contextualizar os discursos políticos, desconstruindo populismos. O jornalista tem de saber contextualizar quando um dos políticos ataca determinadas comunidades ou acusa outras, tem de ser o primeiro a denunciar isso”.
O representante da RTP, no GILM, propôs a criação de diagnósticos sobre os problemas da literacia e da desinformação e considerou ser “imprescindível a realização de estudos sobre a situação atual do jornalismo e da comunicação social”.
O ministro da Educação manifestou-se preocupado com o jornalismo dos dias de hoje. Segundo João Costa, “os jornalistas já não refletem sobre o que escrevem, tudo é imediato e já nada é avaliado”. Para combater este problema, sugeriu que “todo o processo deva ser desmontado”.
João Pedro Figueiredo considerou que os diagnósticos propostos por Pedro Jorge Braumann já estão feitos, mas que “é preciso fazer, responsabilizar e avaliar”.
Pedro Jorge Braumann focou-se no futuro do jornalismo nacional. Prevê um desaparecimento dos meios de comunicação social motivado pela inflação, modernização tecnológica e pela falta de subsídios. Considerou que todas as questões abordadas são irrelevantes se os meios de comunicação não subsistirem. “A ERC tem condições para fazer uma análise mais detalhada sobre os meios de comunicação, as suas limitações de financiamento, a sua evolução futura e pode contribuir para a sobrevivência do setor”, afirmou.
Com a presença do ministro da Educação na plateia, descontentamento foi evidente: “Falta-nos tempo e recursos, sr. ministro”, ouviu-se. O público aproveitou o momento para demonstrar insatisfação com o setor educativo. Alguns docentes na plateia realçaram as lacunas presentes nos novos planos e mostraram-se insatisfeitos com a falta de tempo para o diálogo com quem participou no debate.
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