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Sherri Aldis: “Estamos muito focados na ação climática. Chega de conversa, é hora de agir”

Atualizado: 23 de mai. de 2023


Sherri Aldis, diretora do Centro Regional de Informação das Nações Unidas


Texto: Nuno Gil Ferreira

Foto: Sofia Simão


Desde que a informação se propaga à velocidade da internet, com discursos de ódio e fakenews a serem disseminados pelas redes sociais, tornou-se ainda mais premente capacitar os cidadãos para identificar conhecimento credível sobre o mundo que os rodeia. Consciente da importante missão do centro que coordena para combater a desinformação, Sherri Aldis foi, esta sexta-feira, 21 de abril, uma das oradoras convidadas do VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania, que decorre na ESCS. Em entrevista exclusiva, a diretora aborda temas como o impacto da guerra na Organização das Nações Unidas, os esforços da organização no combate às alterações climáticas e as diversas formas de chegar às populações.


Qual a missão do UNRIC-Centro Regional de Informação para a Europa Ocidental, das Nações Unidas?

A ONU foi criada em 1945 com o objetivo de estabelecer paz no mundo e tem trabalhado em três pilares: paz e segurança, desenvolvimento e direitos humanos. E o meu trabalho é cuidar da comunicação na zona da Europa Ocidental. O Centro Regional de Informação das Nações Unidas está situado em Bruxelas, mas cobre 22 países no oeste europeu, com 13 idiomas. Temos como prioridade as comunicações entre das Nações Unidas e ter a certeza de que são partilhados com as populações, seja por plataformas digitais, por eventos ou por artigos. Métodos de relação imediata, assim como qualquer outro que permita chegar às pessoas, independentemente de onde estejam, são usados para este motivo também na língua das pessoas contactadas. Temos, por exemplo, alguém que trabalha em Portugal. Essa pessoa vive em Bruxelas, mas cobre o território português. Tanto os produtos como os comunicados que produzimos se encontram disponíveis em diversas línguas.


Quais considera as maiores conquistas do centro, no último ano?

Acredito que sair do período de pandemia e termos sido capazes de ajustar as nossas atividades para um mundo pós-pandemia. E depois, claro, a guerra na Ucrânia, que começou alguns dias depois de chegar a Bruxelas, e assim ser capaz de mudar toda a equipa para missões com um contexto de crise e realmente conseguir espalhar as notícias do trabalho humanitário da ONU, em particular na região ucraniana, foi um importante e grande desafio para a equipa, mas todos conseguiram ir mais além para a ocasião e temos reportado o que se passa, mesmo com todo o sofrimento humano.


Pegando na vertente da guerra, de que formas é que a guerra russo-ucraniana afetou as atividades do centro?

O meu colega que cobre os países nórdicos encontra-se em Bruxelas, então não somos impactados diretamente por isso. Mas todos os materiais de comunicados que temos sobre as iniciativas, como a Black Sea Grain Initiative ou a Humanitarian Relief, são que estamos a trazer refugiados e a providenciar para a Ucrânia e para os países circundantes. Está tudo publicado e espalhado por todos os países que o centro cobre, na língua nativa de cada um. É bastante importante conseguir providenciar a informação que, muitas vezes, as pessoas não sabem sobre os trabalhos diplomáticos que estamos a realizar. A diplomacia, em algumas ocasiões, tem de ser mais secreta, por detrás da cortina. Mas depois temos diplomacia com um objetivo, que é bastante importante que tenha uma voz nos media, para ter a certeza de que as pessoas sabem que as iniciativas existem.


Este ano celebram-se 25 anos do Good Friday Agreement, que pôs fim à violência na Irlanda do Norte. Com a ameaça de o Brexit poder acabar com a paz, como tem a ONU reagido aos avanços dessa possibilidade?

Claro que a ONU foi criada com o objetivo de promover a paz e a segurança no mundo. Portanto, o facto de termos uma paz tão duradoura na Irlanda do Norte desde que o Good Friday Agreement foi assinado é um marco bastante significativo. Podemos, inclusive, ver o progresso nessa frente. A ONU apoia qualquer iniciativa que promoveria a paz e a continuidade da paz no continente europeu.


O que mudou no modus operandi da UNRIC, durante e depois da pandemia Covid-19?

O maior impacto foi que todos tiveram de entrar no regime de teletrabalho. Por isso, fomos obrigados a transformar, muito rapidamente, todas as nossas atividades em cem por cento online. E isso é desafiante porque muita gente está confortável com a tecnologia digital, enquanto outras nem tanto. Portanto, houve uma mudança para esse modelo e, quando eu cheguei, ocorreu uma transição para sair desse modelo. Com isto, encontrarmos uma forma de trabalho híbrida, com parte online e parte presencial. Foi um dos efeitos positivos da pandemia, visto que podemos organizar uma maior quantidade de eventos, tanto presencial, como virtualmente, e até em regime híbrido.


Como é que a UNRIC aborda as populações mais isoladas? E como é que reagem às propostas e às iniciativas?

É um desafio! É mais fácil chegar às populações nas grandes cidades, assim como é mais fácil organizar eventos em grandes cidades. Há uma maior concentração de pessoas jovens, digitalmente mais cultas. Mas claro, é importante chegar a pessoas em todo o lado, daí termos representantes para cada país, que falem os idiomas. Também tentamos encontrar parceiros com o objetivo de realizar atividades que sensibilizem as populações mais isoladas. Um exemplo disto foi, aquando do aniversário de 75 anos da Declaração dos Direitos Humanos, o meu colega António Guterres decidiu traduzir o documento para mirandês, como forma de chegar a populações que escolham o uso do idioma em vez do português.


Como é que o centro tem trabalhado no tópico da conservação ambiental e como é que consegue impulsionar as ações da ONU para o cumprimento dos objetivos impostos pela mesma organização?

A sustentabilidade não é um objetivo da ONU, mas do mundo. São para todos. A ONU trabalhou com diversos parceiros em todo o mundo para desenvolver objetivos de desenvolvimento sustentável, que foram, depois, aprovados por todos os 193 estados-membros. Diria que é um esforço de grupo. Temos responsabilidades? Absolutamente. E cumprimo-las pelas iniciativas que a ONU organiza. Numa vertente comunicacional, este é um dos nossos pontos prioritários, a sustentabilidade no geral, assim como a prioridade vital da ação climática. O secretário-geral António Guterres foi bastante decidido na sua escolha de palavras para o efeito de fazer com que as pessoas ajam. Um dos principais obstáculos seria a desinformação, que tem um grande impacto negativo na nossa luta contra o desequilíbrio climático.


Qual seria a forma mais direta de ajudar estas iniciativas?

Como qualquer outro esforço, precisa de recursos, tanto humanos como financeiros, se quisermos que funcionem o mais eficientemente possível. Precisamos de pessoas habilidosas, inclusive que mantenham essas habilidades, assim como o conhecimento e a experiência, o mais atual possível. Embora o que muitos possam achar, neste âmbito, somos bastante capazes e bons nisso. Temos gente muito talentosa e criativa que, com recursos limitados, consegue fazer imenso.


Como conseguem fazer chegar às gerações mais jovens a mensagem e a missão da ONU?

Redes sociais. Quando falamos de gerações mais jovens, referimo-nos a adolescentes e crianças, que precisam de ser tratadas de maneiras diferentes para que a mensagem passe. Adaptamos, por exemplo, a linguagem usada para cada público-alvo. Mesmo que as palavras “objetivos de desenvolvimento sustentável” não sejam palavras que todos entendam, conseguem entender os conceitos das mesmas. Mesmo quando falamos de pobreza, fome ou injustiça, esse público consegue entender isso, e é o mais importante. Para crianças entre os seis e os sete anos, criámos uma lista de livros, em todos os seis idiomas oficiais e mais sete adicionais, que podem ser lidos às crianças, ou pelas crianças, para entenderem melhor o que é preocupar-se com o seu redor.


Quais são as prioridades da UNRIC, assim como os objetivos principais para este ano de 2023?

Estamos muito focados na ação climática. É a nossa principal prioridade. Lutar contra a desinformação também é extremamente importante e, obviamente, trabalhar nos objetivos de desenvolvimento sustentável. Podemos ainda estar a sete anos e meio de distância, mas temos de começar já a trabalhar para eles. Estamos no ponto de não retorno, a meio do tempo. Teremos alguns momentos importantes, incluindo uma conferência em setembro, em que vamos declarar que chega de conversa, é hora de agir. Estas são algumas das nossas grandes prioridades. Celebramos este ano também o 75º aniversário, tanto da declaração dos direitos humanos, assim como das nossas missões de paz.


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