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“Há uma coisa que o jornalista pode oferecer e que a IA não consegue: o carácter humano e emocional”

Atualizado: 11 de mai. de 2023


Belinha de Abreu, presidente do Conselho Internacional para a Literacia Mediática – IC4ML)


A presidente do Conselho Internacional de Literacia dos Media (IC4ML) considera, numa breve entrevista após o Congresso, que a literacia mediática deveria ser ensinada nas escolas desde tenra idade. A especialista colaboradora da UNESCO defende ainda que poderia ser uma unidade curricular dos cursos superiores de Jornalismo


Texto: Luiza Felipe


É professora universitária e investigadora em literacia mediática, tendo colaborado, enquanto especialista da área, com a Secção de Comunicação e Informação da UNESCO, no âmbito do Fórum sobre Literacia dos Media e da Informação. Belinha S. de Abreu é ainda autora de várias obras, como Teaching Media Literacy e Global Media Literacy in a Digital Age, fundou o Simpósio Internacional de Investigação sobre Literacia dos Media e é presidente do Conselho Internacional de Literacia dos Media (IC4ML). Em entrevista, fala da importância da educação para a literacia mediática e de como a ética é determinante no contacto crescente e cada vez mais omnipresente do ser humano com as novas tecnologias. “O espaço da literacia mediática não é somente nas escolas, mas nas comunidades e em lugares de convivência.”


Qual a importância da literacia mediática num tempo marcado pela definitiva ascensão da Inteligência Artificial?

É uma ótima pergunta, especialmente porque há muito sobre Inteligência Artificial atualmente nas notícias. E ainda há muito a ser falado. Não está assim tão pouco desenvolvida quanto pensamos. Ocorreu muito desenvolvimento nesse âmbito. É exatamente por isso que necessitamos de mais literacia mediática. Precisamos saber como vamos usar essas ferramentas no futuro e como estas nos vão usar. É uma faca de dois gumes.

A Inteligência Artificial oferece-nos coisas maravilhosas, mas estamos a começar a olhar para essa tecnologia de uma forma que convoca mais interação para as nossas vidas. E, talvez, até como um ser nas nossas vidas. É esse o tipo de coisas que precisamos pensar. Existem questões morais e éticas que devemos abordar sobre o que significa ser humano. Deep fakes são outro problema sobre o quão fácil é pegar na informação, digitalizá-la e alterar o seu propósito num tom que pode não ser positivo. Algumas situações são usadas para questões de diversão, mas a preocupação vem quando falamos de algo oficial, algo que pode mudar a história e o rumo de um evento político. É a este nível que nos devemos preocupar. E isso requer que pensemos sobre que tipo de leis devemos ter para prevenir esses conteúdos.


Qual a importância da literacia mediática para a sociedade?

Todos precisamos dela. Estamos a lidar com gerações futuras que terão sempre tecnologia e outras ferramentas tecnológicas, o que representa uma certa responsabilidade. A realidade é que a tecnologia oferece muito potencial, ainda que, dentro desse potencial, possamos encontrar problemas. Não se trata somente da dimensão técnica, mas também o que fazemos com a tecnologia num contexto pessoal, profissional. Há questões éticas que surgem com o entendimento da tecnologia e da literacia mediática.


Acredita que a Inteligência Artificial veio para ficar?

Sim.


É importante impor limites ou chegar a um meio-termo no recurso à Inteligência Artificial?

Espero que sim. Depende do quanto nós, humanos, queremos ter palavra no impacto e envolvimento da Inteligência Artificial nas nossas vidas. Ainda temos escolha.


Considera que a literacia mediática devia ser ensinada nas escolas?

Cem por cento. Devia ser ensinada desde o nascimento, no 1ºciclo do ensino básico, no 2º e 3º ciclos, no secundário, na universidade. Acaba por ser também uma habilidade para todos. O espaço da literacia mediática não é somente nas escolas, mas nas comunidades e em lugares de convivência. Há sempre uma oportunidade para ser ensinada.


Será indispensável o ensino de literacia mediática para jornalistas?

Seria uma disciplina muito pertinente para estudantes e futuros jornalistas. Especificamente porque os jornalistas são treinados para pensar em informação de determinada forma. Assiste-se a uma constante manipulação de informações e a um menor acesso a notícias de qualidade. A preocupação remete para o facto de que existem mais pessoas a produzir opiniões do que a produzir notícias. As notícias têm de ser factuais. Temos de ensinar aos jornalistas e ao próprio público essa diferença.


Como vê o recurso à Inteligência Artificial no contexto da atividade jornalistas? Ou o potencial de utilidade supera as preocupações?

Pode ser útil sim, mas se o Chat GPT se tornar o jornalista, para que precisamos de jornalistas? Há uma coisa que o jornalista pode oferecer e que a IA não consegue: o carácter humano e emocional.


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