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Experimentar a televisão: É a fazer que se aprende

Atualizado: 23 de abr. de 2023


José Manuel Mestre, jornalista da SIC


Foi uma manhã de sábado diferente no estúdio de televisão da Escola Superior de Comunicação Social. Ao contrário do habitual, as luzes acenderam-se e as câmaras ligaram-se, no primeiro dia do fim de semana, para receber o workshop “O que é notícia (e o que não é) em televisão?”, que ficou a cargo do jornalista da SIC e da SIC Notícias, José Manuel Mestre


Texto: Beatriz Santos e Hugo Oliveira

Foto: SIC Notícias


São nove da manhã e o estúdio está cheio de pessoas de todos os cantos de Portugal e de profissões variadas, que se mostram interessadas em ouvir as partilhas de alguém experiente no jornalismo e de discutir as informações partilhadas. A objetividade neste setor instigou, de imediato, vários pensamentos e opiniões. “Afinal, há ou não há objetividade no jornalismo?”, questiona José Manuel Mestre. Alguns dos participantes consideram que “o jornalista deveria ser objetivo”. Porém, ao longo de um debate sobre esta questão, percebe-se que o jornalista da SIC considera que “a objetividade não existe, uma vez que é impossível não se ter emoção, mas deve ser procurada”.

Rigor e isenção, dois temas cujas opiniões criam muitas ramificações. No local, é defendido que existe, por parte dos jornalistas, “uma busca incessante pelo rigor, o qual é diferente da fidelidade aos factos. Sobre a isenção, é de opinião geral que o jornalista deve ser o mais imparcial possível durante o exercício profissional.


O Interesse público vs. o interesse do público


“A informação num telejornal deve ser de interesse público ou do interesse público?” A pergunta é lançada, mas as respostas demoram a surgir. “Acho que deve ser do interesse do público”, ouve-se timidamente entre a plateia. A partir deste momento, a discussão está aberta. As opiniões dividem-se, mas depressa se chega à conclusão de que deve existir um “equilíbrio”. “Esse é um dos grandes desafios”, sublinha José Manuel Mestre. A conversa continua. Chega-se assim ao verdadeiro motivo que atraiu as pessoas presentes naquele estúdio a participar neste workshop: “O que é notícia (e o que não é) em televisão?”


A única pressão dos órgãos de comunicação é a atenção do público, que por isso vivem numa correria constante à descoberta de notícias. Agora mais do que nunca – acrescenta o jornalista da SIC, “existem muitas fontes a transmitirem informação ao mesmo tempo e torna-se sempre necessário verificá-las”. Desta forma, juntam-se na preparação do telejornal os editores, coordenadores e diretores.


“Uma coisa é ver, outra coisa é fazer”


De forma a aproximar os participantes daquela que é a realidade jornalística, José Manuel Mestre propõe uma dinâmica na qual os intervenientes são desafiados a selecionar as notícias do dia. Rapidamente as ideias começam a fervilhar dentro do estúdio. Está decidido. A ordem do dia é marcada pela visita de Lula da Silva a Portugal, o anúncio da criação de um Plano Nacional de Literacia Mediática, a nova ronda negocial entre o ministro da Educação e os professores, o custo de vida e a coroação de Carlos III. Esta escolha acaba por evidenciar que a seleção noticiosa acontece, de forma inconsciente, em função da proximidade. Com o alinhamento definido e os papéis atribuídos, está tudo a postos para a emissão do “Telejornal ESCS”.


Com notícias lançadas, testemunhos recolhidos e opiniões em estúdio, mostra-se o resultado, de forma a perceber o trabalho realizado nos atarefados cinco minutos de emissão. São evidentes as falhas comuns de um direto. Contudo, o jornalista político relembra: “Crucifica-se o melhor jornalismo em virtude de falhas técnicas". Apesar dos percalços, fica a lição de que “o melhor caminho para a literacia é nós continuarmos a fazer, uma vez que a ação permite diferenciar o que é facto do que é opinião”, conclui. A presença de professores de diversas áreas em estúdio levou a que se sublinhasse a importância do ambiente escolar na desconstrução desta ideia.


Incutir o gosto pela literacia


O workshop não deixa ninguém indiferente. O remate final de José Manuel Mestre “sem jornalismo não há democracia” foi a chave de ouro para o fim da partilha.

“Adorei a sessão. Foi muito prática e também nos ajudou a libertar a nossa criança interior. Foi bastante atrativa e muito útil. Ultrapassou as minhas expectativas”, conta Sandra Pratas, umas das participantes.


O professor-bibliotecário Rui Abreu reforça que “foi muito interessante no sentido de conhecer como é que funciona uma televisão por dentro. Uma coisa é assistir em casa, outra é estarmos a ver como funciona ao vivo e como é que é feito um alinhamento das notícias”. Fica também a vontade de partilhar este conhecimento com os alunos da escola onde trabalha e de incutir o gosto pelo jornalismo e pela literacia mediática.


Raquel Gonçalves, aluna de 1.º ano de licenciatura em Jornalismo da ESCS, realça a importância de poder praticar, durante o exercício, o papel de repórter e a “oportunidade de ouvir alguém que faz jornalismo há muitos anos”. “Foi muito especial”, confessa.

 

José Manuel Mestre, jornalista da SIC Notícias: “A literacia é essencial para a democracia e a sociedade”


Com uma longa carreira jornalística, José Manuel Mestre fez parte de momentos importantes na história do jornalismo nacional ao integrar as equipas fundadoras da rádio TSF e do canal SIC Notícias. O jornalista participou no VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania, onde destacou o papel indispensável que a literacia tem na sociedade


Entrevista: Afonso Costa e Rui Catela


A literacia é indispensável não só para o jornalismo, mas também na educação dos jornalistas do futuro?

A literacia é essencial para a democracia, para a sociedade e obviamente que o jornalista deve ter isso em conta, mas é preciso formar uma sociedade que tenha literacia mediática, que saiba ler o que é uma notícia e distingui-la do que não é notícia. Um Congresso como este que ajude a preparar professores e futuros profissionais nas questões da literacia é essencial porque, se não tivermos uma sociedade que saiba consumir notícias, estamos a destruir a sociedade por dentro.


Sendo este um tema tão relevante, considera que se tem demorado a tomar medidas no campo da Literacia Mediática?

Durante muitos anos não aprendemos a consumir informação. O que se passa nas redes sociais é disso um grande exemplo. Este é um fenómeno novo, para o qual as pessoas não estavam preparadas. Acham que com uma leitura transviada da informação vão ter uma sociedade melhor, mas na verdade estão a destruir a sua própria sociedade e é preciso que percebam que é importante saber consumir informação.

Já tivemos situações de distribuição de notícias falsas, ou parcialmente verdadeiras, que condicionaram o pensamento das pessoas e que podem mesmo ter provocado resultados eleitorais adulterados. Isto é apenas uma parte. Podemos chegar ao ponto em que o fenómeno das notícias falsas pode ter efeitos médicos, ter reais efeitos na nossa saúde, como aconteceu com as vacinas por exemplo, em que houve muita desinformação. As pessoas podem não querer ser vacinadas, têm esse direito, mas não por desinformação e sim consumindo factos, evidências e estando atentas para o que é um facto e a sua adulteração.


Dada a sua experiência na televisão, o que considera ser um bom trabalho de jornalismo televisivo?

É uma pergunta muito vasta, mas um bom trabalho de jornalismo televisivo é aquele que aprofunda, que investiga, que é criativo pela estética, pela qualidade da imagem e pela capacidade de captar os interesses públicos. Tem por isso mais-valias do ponto de vista da forma, sem ceder em termos do conteúdo, em termos do rigor e da profundidade.


Que conselhos daria aos jovens estudantes de jornalismo?

Nunca desistam de ir mais longe, de fazer o jornalismo de acordo com o código deontológico dos jornalistas, de procurar o rigor porque a objetividade não existe, mas o rigor e os factos existem e têm de ser esses sempre a guiar o jornalismo.



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