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O empobrecimento do jornalismo

Atualizado: 24 de mai. de 2023


António José Teixeira, diretor de informação da RTP


António José Teixeira é um dos mais importantes jornalistas portugueses, com um percurso sólido na área da informação. Iniciou a sua carreira a partir da década de 70, passando pela rádio, pela imprensa escrita e pela televisão


Texto: André Meireles e Maria Pinto

Foto: Ana Pinto


Descobriu a paixão pela comunicação na Rádio Altitude da Guarda, a rádio local mais antiga do país, que teve um impacto significativo na vida da população. “Era uma coisa importante na nossa vida, na vida daquela região. O fascínio pela rádio foi o que me trouxe à universidade também, a um curso que foi pioneiro e que fez de mim um jornalista profissional”, diz.


Depois da passagem pela rádio, mudou-se para Lisboa, onde estudou Comunicação Social, na Universidade Nova de Lisboa. Mantém uma relação com a instituição até aos dias de hoje, sendo que leciona Jornalismo Político no mestrado de Jornalismo. Passou por vários órgãos de comunicação, nomeadamente Diário de Lisboa, TSF, Jornal de Notícias, Diário de Notícias e SIC Notícias. Desde 2020, é diretor de informação da RTP.


“É um dia a dia bastante intenso”, admite o diretor de informação. O seu trabalho passa por resolver problemas, planear projetos e resolver situações em que surgem barreiras ao trabalho dos jornalistas. A RTP, como órgão de serviço público, tem responsabilidades acrescidas no que respeita ao tratamento da informação. “A qualidade do serviço público é, também ela própria, um fator de regulação”, considera.


Uma das características dos tempos modernos é a constante adaptação a novas realidades, tais como a pandemia ou a Guerra da Ucrânia. O responsável pela direção da informação da RTP mostra-se satisfeito com os métodos adotados pela estação: “Há um sentimento de dever cumprido em alturas difíceis, como na pandemia ou na guerra que ainda hoje vivemos e em que fomos chamados a oferecer outros meios de acesso à informação que até aí não tínhamos, como o Ensino em Casa e o RTP Ensina.”


A experiência do jornalista leva-o a destacar algumas diferenças entre a rádio e a televisão: “Diferencia-as a linguagem. Na televisão, a imagem é muito relevante naquilo que é a perceção da informação, enquanto que a ‘imagem’ na rádio passa pelo áudio, por aquilo que os sons nos permitem perceber e é um desafio, também ele, muito interessante, porque têm uma rapidez de resposta só comparável àquela que a internet tem.”


António José Teixeira marcou presença, esta terça-feira, no VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania, que se realizou na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa. Participou na primeira sessão plenária, em que se abordaram os novos paradigmas para a Literacia Mediática. No contexto da sua participação no congresso, considera importante este género de iniciativas. “A discussão é uma ferramenta importante para questionar, duvidar, para sermos céticos positivamente, no sentido de ganharmos consciência de que as coisas às vezes não são como parecem e, portanto, todas as cautelas são poucas.”


Um dos pontos fulcrais da sessão enfatizou o facto de ser difícil manter a credibilidade no jornalismo. “A verdade é que, em última análise, todos podemos fornecer informação, mesmo que não sejamos jornalistas. Há uma responsabilidade inerente ao exercício do jornalismo que não é para toda a gente, senão o jornalismo não seria interessante”, menciona.


A RTP revela uma preocupação particular com a questão da literacia mediática, prova disso é o facto de a estação de serviço público ter sido considerada a mais credível nos últimos anos. António José Teixeira reforça a necessidade de verificação dos conteúdos jornalísticos, com especial cuidado na atualidade. “Acho que hoje devemos encarar a informação com olhos mais exigentes”, considera. O jornalista revela uma preocupação com a forma leviana como as pessoas encaram esta questão. “Temos um problema de empobrecimento do jornalismo”, comenta.


O diretor de informação da RTP compara o nível do jornalismo com a fragilidade das democracias, defendendo uma aproximação de ambas as realidades. “Se as democracias não se convencerem de que a questão do jornalismo é uma questão fundadora das democracias, então estamos a condenar as democracias, a nossa condição de cidadãos”, conclui.


O jornalista defende a aposta na formação e no combate aos novos fenómenos da inteligência artificial, realçando a forma como a RTP se molda às preferências das novas gerações. E acrescenta: “Os mais novos não têm os mesmos hábitos de consumo de conteúdos.”


António José Teixeira conclui que os órgãos de comunicação devem olhar para a questão da literacia mediática com especial atenção. “Só é credível quem reconhece que comete erros”, afirma.



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