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Especialista da UE em desinformação elogia Portugal na Conferência Inaugural

Atualizado: 24 de abr. de 2023


Divina Frau-Meigs, da Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, especialista da UNESCO em desinformação


“Obrigada, Chat GPT, obrigada, fake news”, afirmou, em jeito de desafio, a socióloga da Universidade Sorbonne na inauguração do VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania


Texto: Luana Plácido, Sofia Bayó e Teresa Freire

Foto: Ana Pinto


Num contexto de emergência democrática, é preciso resistir às plataformas e investir na literacia mediática. Este foi o apelo deixado por Divina Frau-Meigs, na conferência inaugural do VI Congresso de Literacia, Media e Cidadania, que decorreu, entre 21 22 de abril, na Escola Superior de Comunicação Social.


A professora da Universidade Sorbonne Nouvelle elogiou o caminho que tem vindo a ser percorrido por Portugal no campo da literacia mediática, frisando que foi o primeiro país onde professores e jornalistas começaram a trabalhar em conjunto. Há que “treinar os treinadores”, ou seja, formar quem ensina. “São necessárias políticas públicas que nos permitam, como comunidade, resistir a um ambiente povoado de desinformação”, defendeu.


“Obrigada, Chat GPT. Obrigada, fake news”, disse a perita da União Europeia, em tom irónico, por “provarem que somos necessários”. Frau-Meigs ressaltou desta forma que, hoje em dia, tudo pode ser falsificado ou transformado. Para diferenciar o confiável do ilegítimo, a professora francesa introduziu a “teoria da mudança” - uma forma de questionar a informação que nos chega e fomentar a literacia mediática. A teoria da mudança passa por analisar, interpretar e reagir e, segundo a oradora, “cada cidadão deve adotar ou criar a sua teoria”.


Ativista assumida, a académica apelou ainda à resiliência das populações e à aposta na “plataformização” das MIL (Media Information Literacy), de modo a ter mais poder que as próprias plataformas digitais. “Somos os seus utilizadores, eles precisam de nós. Temos o poder para resistir e esse é o poder da cidadania, que deve ser utilizado para promover o bem e aplicado na sociedade".


A especialista da UE terminou a intervenção com um desafio: “É preciso adotar uma visão crítica em relação à informação a que temos acesso.” A socióloga sublinhou ainda que “o correto a fazer é convocar investigadores e documentalistas como forma de promover a literacia dos media”.

 

Divina Frau-Meigs: “O mais importante na literacia mediática é dar às pessoas a coragem de se desafiarem”

Foto: Media Regulation Resource Center


Texto: Luana Plácido, Sofia Bayó e Teresa Freire


Em declarações exclusivas após a palestra, Divina Frau-Meigs defendeu a literacia mediática para o funcionamento da sociedade


Divina Frau-Meigs é professora de Sociologia dos Media, na Universidade Sorbonne Nouvelle Paris III. As suas pesquisas incluem diversidade cultural, direitos humanos e educação dos media. É também membro do grupo de peritos da União Europeia para a desinformação.


Qual considera ser o papel de espaços públicos de debate sobre literacia mediática?

São muito relevantes e o facto de ter tido pessoas tão importantes na abertura do Congresso comprova que os políticos estão a tornar-se conscientes sobre a importância da literacia mediática. Sou uma antiga defensora desta causa e tenho vindo a lutar para que esta área de estudos seja reconhecida. Sempre tive uma visão europeia e sempre trabalhei com colegas portugueses desde o início, portanto, estou muito feliz por ver que estão a esforçar-se pelo próprio país e que os resultados da investigação estão a ser reconhecidos.


Enquanto professora e ativista, qual é a maior preocupação com a literacia mediática no momento?

É que a literacia mediática esteja a ser reduzida à literacia de notícias e que a outra dimensão da literacia mediática, que inclui a oportunidade de os mais jovens ganharem presença online e construírem uma identidade nesse espaço, esteja a ser deixada de lado. E, no entanto, essa também é uma parte da literacia mediática de informação. Precisamos de dar oportunidades e agora é tudo desinformação e fake news, radicalização e polarização, etc. Ao mesmo tempo, estes são momentos particulares para a democracia. Há países que querem destruir a democracia e têm isso como um plano, tais como a Rússia e a China. Logo, é muito importante que tenhamos atenção a esses riscos, construindo resiliência.


Considera que o Governo português está a fazer um esforço para o desenvolvimento da literacia dos media?

Pelo que ouvi esta manhã e daquilo que sei através de pesquisas que fiz recentemente, o Governo vai expandir o seu programa nesta área, o que quer dizer que eles vão ter de ser abertos a um maior financiamento. A verdade é que, se não tivermos financiamento, as perspetivas da literacia mediática não podem avançar. Penso que se existir uma política de financiamento público, vai haver mais perenidade do projeto.


De que forma é que programas como o ChatGPT criam entraves à informação?

Temos de ser cuidadosos com programas como o ChatGPT porque os criadores dizem que estão a “abrir” e a “libertar” informação. Não devíamos prestar muita atenção ao facto de ser um risco e uma catástrofe. Temos de o analisar e perceber de que forma é que o podemos incorporar no sistema de educação, se o considerarmos útil. Se não, deixamo-lo de lado.


Considera que a população jovem tem consciência do problema que se gera com estes programas?

A população mais jovem normalmente está mais consciente do que os adultos, eles falam uns com os outros, chamam a atenção entre eles e reconhecem os riscos. Mas também é verdade que os programas como o ChatGPT facilitam muitos processos que são lentos e que são trabalhosos para aprender na escola, sem ter uma máquina a fazê-lo por nós, tais como construir um layout para uma discussão e para uma dissertação. Seria um problema se estas competências organizacionais e comunicacionais fossem apenas deixadas para as máquinas. Temos de aprender a utilizar o ChatGPT como um assistente e não como um substituto.


Quais são as suas expectativas para a continuação do Congresso?

Não sou portuguesa, portanto, eu não quis colocar as expectativas no topo. Espero que, especialmente amanhã, em que vai haver imensa prática e partilha com workshops, os professores e os documentalistas que estão presentes na conferência ganhem muito boas ideias. Nós vamos sentir-nos impulsionados. Como costumo dizer, para nós, a coisa mais importante na literacia mediática é dar às pessoas a coragem de se desafiarem; sentirem que sabem o suficiente, que podem encontrar os atores certos para os ajudarem. A partir daí, utilizarem as suas práticas e construirem propostas.




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